Vambóra?

São 4 horas da manhã, acordei com um som de alarme e a estranha sensação de que estão roubando nosso carro.
Estamos em Almirante, uma vila-porto na baia de Chiriqui, em plena selva panamenha, onde se embarca para o arquipélago de Bocas del Toro.
Da  minha cama em nosso quarto sem janelas do hotel "La Preferida" posso ouvir, pelo barulho nas telhas metálicas, que o mundo está caindo lá fora.
Não é paranóia, meu receio tem razão.
Nosso carro, com tudo o que temos dentro, está num parqueo "cego", sem visão do hotel, onde a única segurança é uma câmera de vigilância quebrada...

Ontem chegamos aqui cansados de tudo.
O tempo mudou, temos previsão de chuva para os próximos dias e a travessia da fronteira Costa Rica/Panamá, a absurda falta de estrutura, capacidade e respeito que fomos, não só nós, obrigados a engolir debaixo de chuva, acabou com o nosso entusiasmo, ao ponto de questionarmos se valeria a pena ir até Bocas.
O cansaço, a saudade, a indefinição do transporte para a américa do sul e o agendamento dos embarques marítimo e aéreo nos feriados de fim de ano, tem aumentado muito nossa ansiedade em voltar pra casa e já estamos quase "entregando os pontos" e tocando direto para Panama City pra resolver essas "pendências".

Para chegar a Bocas temos pela frente a produção de:
Arrumar hotel em Almirante
Achar um lugar seguro para deixar o carro
Pesquisar, agendar, comprar o transporte para as ilhas, via ferry ou lancha.
Arrumar hotel em Bocas
Arrumar um barco para conhecermos as ilhas, na vila não tem nada.
Tudo isso com duas crianças, debaixo de chuva e sem ondas!

Será que não vamos nos arrepender de chegar até aqui "Na boca da butija" virar as costas e ir embora?
Será que teremos a oportunidade de vir aqui novamente?
Foda-se! Bateu uma canseira, um "cinco-minutos" e falamos: "Deu. Chega! Vambóra?"
Como nossa única alternativa era dormir aqui, porque a estrada para o outro lado (+ cvilizado) é, por N motivos intransitável à noite, fomos obrigados a esperar até amanhã (hoje) para decidir nosso futuro...